Por: Lou Cardoso | Via Cine Looou
Produções que exploram o true crime, especialmente de famosos, estão ganhando cada vez mais espaço no audiovisual. No mundo da moda, por exemplo, já tivemos The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story, a série criada por Ryan Murphy, que explora a morte do designer italiano Gianni Versace (1946 – 1997) pelas mãos do serial killer Andrew Cunanan, em 1997. Agora, é a vez de uma outra marca fashionista ter o seu passado revivido nas telas. Casa Gucci conta a história de altos e baixos do casal Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver), este último, membro da família fundadora da grife italiana Gucci, que acabou assassinado por ordem da sua ex-esposa.
Dirigido por Ridley Scott, Casa Gucci traz o que de melhor poderia render sobre o caso: melodrama, manipulações e poder. É inegável que o diretor soube aproveitar as suas 2h38min para transformar o filme em um novelão “italiano” de ascensão e queda de uma jovem mediana que enxergou em um dos herdeiros da grife italiana a oportunidade de conquistar tudo o que merece. O filme assume que a personagem se casou com um sobrenome e não com uma pessoa. Por mais que o casal mantenha uma reciprocidade emocional evidente desde os seus primeiros minutos juntos, quando os conflitos apertam, Patrizia não mede esforços para manipular quem for para chegar no topo da pirâmide da empresa, justificando que é em nome da família.
Mas se a primeira parte de Casa Gucci é dominada por Lady Gaga, na segunda, quase partindo para o clímax do filme, é Adam Driver quem acorda para dar voz ao seu contido e tranquilo Maurizio Gucci. O tímido advogado se vê cada vez mais enrolado nos confrontos familiares arquitetados pela sua esposa e, por causa disso, decide deixá-la no passado. Assim como defende desde o início da narrativa, que não há lugar no presente para quem ficou para trás. A decisão de Ridley Scott de focar em Maurizio em seus dias finais transforma a narrativa, que estava a todo vapor com Patrizia, em irônica, já que quando, finalmente, ele estava vivendo independente das vontades do pai e da esposa, é assassinado. É uma aposta arriscada a virada de protagonismo, e prejudica o clima do filme.
Lady Gaga se entrega, literalmente, como a própria vem espalhando por aí, ao papel de Patrizia Reggiani. A cantora e atriz não economiza nos jeitos e expressões da italiana, que foi condenada a 29 anos por arquitetar a morte do ex-marido, o que lhe favorece em cena. O sotaque carregado não agrada, assim como o restante do elenco, mas há de se reconhecer a dedicação a uma atuação que não deixará de ser indicada na temporada de premiações do próximo ano.
Adam Driver é ofuscado, sem dúvida, pelos nomes que acompanham no longa, porém isso é atribuído à personalidade um tanto ingênua de Maurizio que quando decide controlar as rédeas da própria vida e da empresa, começa a se transformar no magnata que nasceu para ser. De longe, a parceria entre Al Pacino e Jared Leto é a que mais se destaca em Casa Gucci. Os dois grandes atores se jogam e abraçam o ridículo de seus respectivos papéis de pai e filho, tornando o filme cômico e melodramático nos seus momentos de reconciliação, sendo o ponto alto de toda a história.
Casa Gucci é um típico filme que aproveita dos fatos reais para retratar o imaginário de um dos crimes que abalou o universo da moda na década de 1990, que não deixa de ser um ambiente pronto para o drama. Usando e abusando dos elementos que têm em mãos, Ridley Scott não chega na grandiosidade que é uma Gucci original, no entanto, entrega um “pretinho básico” que todo mundo gosta de ter, e porque não, de assistir.
Texto escrito originalmente para o site do Correio do Povo
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