Homem com H: Ney Matogrosso nas Telonas
- Carlos Mossmann
- há 5 minutos
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Cinebiografia de Ney Matogrosso, escrita e dirigida por Esmir Filho, estreia dia 1º de maio nos cinemas

Nunca se viu rastro de cobra nem couro de lobisomem, mas Ney Matogrosso sempre esteve lá: à espreita, pronto para desafiar o indomável. Ícone selvagem, um símbolo de autenticidade e liberdade, o artista que nunca pediu licença para ser quem é agora ganha as telonas com “Homem com H”, cinebiografia estrelada por Jesuíta Barbosa, que estreia em 1º de maio. Como Ney, o filme não se esconde: encara tudo de frente, com brilho nos olhos e a intensidade de quem nasceu para ser lenda.
Com direção de Esmir Filho, o longa mergulha nas camadas de Ney, um artista que nunca aceitou o óbvio. Inspirado na biografia escrita por Julio Maria, o filme atravessa sua infância em Bela Vista (MS), seu breve e turbulento período na Aeronáutica — onde foi expulso por ser "diferente demais" — e sua explosão nos anos 70 ao lado dos Secos & Molhados. Tudo isso em plena ditadura militar, quando Ney virou um ícone de resistência, brilhando com mais força onde tentavam apagar as luzes.

Ao retratar o contexto histórico da ditadura, “Homem com H” mostra como a vida de Ney se entrelaça com a história de um Brasil que aspirava à liberdade. Resistindo a todas as formas de repressão — da família, da sociedade e do regime opressor —, Ney Matogrosso desafiou preconceitos e inaugurou um estilo próprio que transcendeu a música.
Mas o filme vai além de um retrato cronológico. Assim como Ney nunca foi apenas um cantor, a narrativa explora as relações que moldaram sua vida. Do silêncio e reprovação do pai, um oficial severo, ao romance intenso com Cazuza, o filme revela as dores e delícias de um homem que transformou a vulnerabilidade em força. Ney é confronto, criatividade e reinvenção, um artista imprevisível e impossível de ignorar.

Jesuíta Barbosa entrega uma atuação que vai além da interpretação: ele encarna Ney. Vestindo figurinos de referências animalescas, maquiagens inspiradas no Kabuki — o tradicional teatro japonês — e reproduzindo a presença magnética de Ney no palco, o ator revive diferentes fases da carreira do artista com intensidade e autenticidade. Ao lado dele, Bruno Montaleone dá vida a Marco de Maria, médico e companheiro de Ney por mais de uma década, enquanto Jullio Reis assume o papel de Cazuza. O filme captura a teatralidade e a força de um artista que não cabia em rótulos nem em palcos.
E como poderia faltar música? A trilha sonora é um espetáculo à parte, revisitando clássicos como “Sangue Latino”, “Rosa de Hiroshima”, “O Vira” e, claro, “Homem com H”. Cada canção é um manifesto, um grito de liberdade que atravessa gerações e se mistura à narrativa visual, criando uma experiência sensorial. Ney não apenas cantava; ele performava a vida, e o filme honra essa essência.
Como Ney se explica? Ele mesmo já disse: "Sou leão. Me interesso porque, quando fiquei sabendo, me entendi. Me explicava. Eu sou leão com ascendente em leão e Lua em escorpião. A Lua em escorpião explica minha manifestação artística, porque a Lua é a comunicação, e a minha comunicação artística é regida pela Lua em escorpião. Por isso essa minha sexualidade, essa coisa exacerbada, intensa." Talvez esteja aí o segredo de sua potência e magnetismo: um homem que se lê nas estrelas, mas que pisa firme na terra e se joga ao mundo com a intensidade de quem sabe exatamente quem é.
Além de sua estreia no Brasil, “Homem com H” será o filme de encerramento do 27º Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no lendário cinema L’Arlequin. Uma homenagem internacional à altura de um artista que, sendo profundamente brasileiro, sempre foi universal.
No dia 1º de maio, os cinemas brasileiros se tornam palco para a força de um artista que nunca se curvou. Ney Matogrosso é o rastro impossível de apagar, a força que atravessa gerações. Um homem que nunca precisou de mais nada além de si mesmo para ser inesquecível.

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