Armada apenas com uma câmera e uma coragem inabalável, Joana da Paz desafiou o tráfico de drogas e a corrupção policial no Rio de Janeiro, transformando sua luta em um símbolo de resistência e inspiração para o filme Vitória, estrelado por Fernanda Montenegro, que estreia nos cinemas no próximo dia 13 de março.
No próximo dia 13 de março, estreia nos cinemas Vitória, uma das produções mais aguardadas do ano, que traz para as telonas a história impressionante e inspiradora de Joana Zeferino da Paz, mais conhecida como Dona Vitória. O longa, estrelado por Fernanda Montenegro e dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira (em trabalho póstumo), retrata a luta de uma mulher que enfrentou o tráfico de drogas e a corrupção policial no Rio de Janeiro, armada apenas com uma câmera e uma determinação inabalável. A narrativa promete emocionar o público ao mostrar como uma idosa transformou sua realidade e a de sua comunidade.
A história de Joana da Paz
Por mais de três décadas, Joana da Paz viveu em um apartamento em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, com vista para a Ladeira dos Tabajaras, um local marcado pela violência e pelo domínio do tráfico de drogas. Aos 80 anos, inconformada com a escalada do crime e a omissão das autoridades, decidiu agir. Com uma câmera Panasonic adquirida em prestações, passou meses registrando da janela de casa a movimentação de traficantes armados e a conivência de policiais corruptos.
Essas gravações foram entregues ao jornalista Fábio Gusmão, do jornal Extra, e à polícia. O material serviu como base para uma investigação que resultou na prisão de mais de 30 pessoas, entre traficantes e policiais militares. A reportagem ganhou repercussão nacional e internacional, transformando Joana em um símbolo de resistência.
Devido às ameaças que passou a receber, Joana foi obrigada a deixar seu apartamento em 2005 e entrou no Programa de Proteção à Testemunha. Sob o pseudônimo de Dona Vitória, viveu no anonimato por quase 20 anos, enfrentando isolamento e dificuldades até sua morte, em 22 de fevereiro de 2023, aos 97 anos. Sua identidade só foi revelada após sua partida, permitindo que o país conhecesse a mulher por trás dessa história de coragem.
Uma vida de lutas
A trajetória de Joana foi marcada por desafios desde a juventude. Nascida em Quebrangulo, no interior de Alagoas, precisou abandonar sua cidade natal após sofrer um estupro e engravidar do agressor, um fazendeiro local. Refugiada no Rio de Janeiro, reconstruiu sua vida como massoterapeuta, mas nunca deixou de lutar por sua dignidade.
O impulso para denunciar o crime surgiu em 2003, quando, após processar o Estado pela desvalorização de seu imóvel, recebeu como resposta de um coronel da polícia que "mentia" sobre a presença do tráfico na área. Determinada a provar o contrário, começou a gravar imagens que se tornaram essenciais para desmantelar o esquema criminoso.
Reconhecimento internacional
A coragem de Joana ultrapassou as fronteiras do Brasil. Após a publicação da reportagem no Extra, sua história foi destaque em veículos internacionais como El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina) e The Independent (Reino Unido). Ela foi homenageada com prêmios como o PNBE de Cidadania e o Prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo, que a reconheceu como a Personalidade do Ano de 2005 no Rio de Janeiro.
Apesar do reconhecimento, Joana recusava o rótulo de heroína. Em uma mensagem gravada na época, declarou: "Não fiz nada além do que qualquer ser humano deveria fazer."
Vitória: A história no cinema
O filme Vitória presta homenagem à força de Joana da Paz e ao impacto de sua luta por justiça. Na obra, Fernanda Montenegro interpreta Nina, uma idosa que enfrenta o crime em seu bairro registrando as ações criminosas com sua câmera. Alan Rocha dá vida ao jornalista Fábio Gusmão, que, na vida real, foi essencial para levar as denúncias de Joana ao conhecimento público.
Com roteiro de Paula Fiúza, o longa explora não apenas o drama pessoal da protagonista, mas também os desdobramentos de sua coragem em uma sociedade marcada pela violência e pela corrupção. O elenco ainda conta com nomes como Linn da Quebrada, Laila Garin, Sacha Bali, Thelmo Fernandes e Thawan Lucas.
A produção enfrentou desafios, como a morte do diretor Breno Silveira em 2022, durante as filmagens. Andrucha Waddington assumiu a direção, garantindo que o projeto fosse concluído com fidelidade à visão original.
O filme teve sua estreia no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, em abril de 2025, no icônico cinema L’Arlequin, localizado em Saint-Germain-des-Prés. Vitória foi o filme de abertura do evento e já é apontado como uma das obras mais marcantes do cinema nacional deste ano.
O legado de Joana da Paz
Joana da Paz deixou um legado que transcende sua história de resistência. Com um ato de coragem, mostrou que, mesmo diante de ameaças e violência, é possível lutar por justiça. Sua história, agora eternizada no cinema, inspira cidadãos a não se calarem frente às injustiças.
Fernanda Montenegro, que interpreta Nina no filme, resumiu o impacto dessa narrativa:
"Joana nos ensina que, mesmo nas situações mais difíceis, a resistência é possível. É uma história que fala de força, humanidade e, acima de tudo, esperança."