Evento idealizado pelo artista visual e rapper André Dizéro, com o apoio da Natura Musical, reúne artistas de Rio Grande em prol da solidariedade.
Conversamos com o talentoso artista sobre sua carreira e sobre o projeto Rap contra o frio, que há 10 anos ajuda pessoas na cidade de Rio Grande e, no ano passado, ganhou destaque nacional no edital Natura Musical 2021. Depois de dois anos no formato online devido à pandemia de Covid-19, o festival retorna aos palcos de forma presencial, reunindo 16 artistas convidados. Nesse retorno, o Natura Musical confere importante apoio para a realização. Serão quatro noites de espetáculos musicais, oficinas e workshops, integrando músicos e comunidade, com ingresso mediante doação de um agasalho e um quilo de alimento não perecível. Confira a entrevista:
Yellow Mag: André, desde o início você trabalha com o Rap. Como tudo começou e qual a importância do gênero musical na sua vida?
Dizéro: Lá em 2006, comecei a escutar Racionais Mc’s, Daguedes, Sabotage e o grupo Elemento Neutro aqui de Rio Grande. Já em 2007, a gurizada estava se inserindo na era digital e começamos a explorar o hip-hop americano. Nesse ano, montamos o grupo Dirth South e foi o início de tudo. Talvez eu nunca tenha mergulhado tão a fundo quanto eu gostaria na música, embora tenha diversos trabalhos nesses anos todos. Mas é que a música sempre me direcionou a outras áreas, lugares e propostas. Através da música, entrei na faculdade de Artes Visuais. Isso me fez desenvolver trabalhos mais voltados à cultura hip-hop em si e despertei para pedagogia, conhecimento e produção cultural. A importância da música na minha vida, além de todo prazer e emoção que desperta ao ouvir, é que ela agiu como fio conector na minha vida, abriu portas, me deu identidade e a possibilidade de seguir uma carreira e um percurso. Ouça agora Dirth South:
Yellow Mag: Quando você sentiu que deveria cantar rap também e como foi esse começo?
Dizéro: Foi junto da gurizada da D$. A gente já amava a cultura, se vestia como rappers e tudo que a gente queria era cantar rap como os caras. Estar junto dos amigos deu mais força, aprendi com eles e pude me desenvolver com o tempo. Hoje se tornou minha identidade e tudo que produzo é a partir o rap.
Yellow Mag: A música “Trem bala” é considerada um clássico do hip-hop rio-grandino. Qual a importância dessa música para você?
Dizéro: Foi um divisor de águas para mim. Foi o som que me deu a liberdade de produzir sozinho de fato e colocar minhas ideias, diferente de quando estamos em um grupo musical. Nesse som, fiz uma parceria da hora com o produtor Mo bass’ e tem mixagem do 808 Luke e videoclipe da A Corte Films. Foi um trabalho que me projetou para outro cenário e marcou uma nova fase. Fiquei feliz como o som foi recebido por geral! Assista agora o clipe Trem Bala:
Yellow Mag: Como você vê o papel do rap para a transformação social?
Dizéro: A cultura hip-hop em si é uma ferramenta muito potente e sinto que ainda temos muito a aprender, desenvolver e contribuir. É uma fonte de conhecimento muito grande que está em constante ressignificação. O papel fundamental do rap, ainda enxergo assim pelo menos, é guiar, abrir portas e oportunidades, servir como alternativa e como potência expressiva. A partir disso, jovens têm as ferramentas necessárias para mudar o curso de suas vidas, e quem sabe, de pessoas que estão a sua volta.
Yellow Mag: Como idealizador do projeto Rap Contra o Frio, que há 10 anos reúne artistas da cena cultural da cidade em prol de auxiliar a população em vulnerabilidade social, de que forma surgiu o desejo de criar esse projeto e qual a importância dele?
Dizéro: Hoje entendo como o evento surgiu, e em quem nos inspiramos. Antes do festival nascer, existia o Rapoint que o finado do Bocha produziu. Antes do festival, existia eventos que Mr. Diones produziu. O Rap Contra o Frio é fruto de todos estes que lá atrás nos guiaram e abriram as portas. Em 2012, fui convidado pela igreja da minha mãe na época, Exército da salvação, para entregar sopa para moradores de rua. Acabei encontrando mais pessoas do que acreditava existir nessa situação. Logo pensei que poderia utilizar o rap como ferramenta para reunir agasalhos. Foi a partir desta experiência que surge o projeto.
Esse ano vamos realizar a 7ª edição e realizar um sonho de expandir para 4 dias de duração, inserindo além das atrações musicais, workshop de produção musical, graffiti e gerenciamento de coletivos. Conquistamos o edital Natura Musical 2021, e isso é uma honra, poder levar este importante fomento para a cidade de Rio Grande – RS, contemplando a arte e a música do local, que é rica e potente. Espero que todos participem e que seja um marco na história do hip-hop da região!
Yellow Mag: De MC a arte-educador, como foi essa transformação?
Dizéro: Gosto sempre de pensar em quem me inspirou para chegar onde cheguei. Nessa etapa da vida, com certeza Law Tissot me abriu as portas. Além dele ser arte-educador, promoveu a minha primeira experiência como oficineiro. Desde então, percebi a potência disso e de como poderia desenvolver a pedagogia e educação em minhas ações. Através disso, percorri uma estrada acadêmica, passei a pesquisar a fundo a cultura e cheguei ao título de mestre em Artes Visuais.
Yellow Mag: Conte um pouco sobre seus projetos na arte-educação e as principais conquistas nessa área:
Dizéro: Minha trajetória como arte-educador e oficineiro de hip-hop abriu diversas portas. Pude realizar cerca de 500 oficinas com o projeto Hip-hop e educação. Entre os principais projetos, também o Minicurso de hip-hop, que trata da formação dos artistas em arte-educação, com 90 contemplados. Tenho planos de escrever livros e promover mais ações desse tipo.
Yellow Mag: Mande uma mensagem para os jovens MCs por todo o Brasil:
Dizéro: Acreditem no processo natural das coisas. Caminhos consistentes são construídos passo a passo. Pensem a longo prazo. Cada vitória, cada espaço deve ser comemorado. E fé!
SERVIÇO:
O que: Rap contra o frio
Quando: 21 a 24 de julho
Onde:Universidade Federal do Rio Grande/FURG (Abertura - 21/7 - 19h - Cidec-Sul; Baile Contra o Frio - 22/07 – 23h – Espaço Lambe; Workshop - 23/07 – 9h – Sala de informática das Artes Visuais;) e Teatro Municipal do Rio Grande (Show principal – 24/07 – 14h).
Artistas convidados:
Rafa Rafuagi, Dj Micha, Batalha do Cassino, Mallua, Miranda, DJ Luan, Gui Gerundo, 808 Luke, DJ Magreen, Malako Records, Miistica, Baby, Mr. Diones, Quality Sul, Isaque Costa e Fúria.
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